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ruionthehop



Domingo, 16.12.12

Richie Campbell trouxe a Jamaica ao TMN ao Vivo, com Focused

A primeira vez que o ouvi na rádio estava longe de ponderar sequer a hipótese de ser um artista português. Focused, novo álbum de Richie Campbell, está oficialmente apresentado ao público. O cantor português, de ascedência inglesa, esteve ontem à noite no TMN ao Vivo, em Lisboa, num concerto enérgico e com casa cheia. Consigo trouxe a 911 Band, considerada por muitos a melhor banda de reggae em Portugal. Tudo o que vou escrever a partir daqui corre o risco de ser censurado por vós, uma vez que me assumo como um leigo nesta disciplina musical.

 

 

As luzes acenderam-se e o pano abriu-se ainda sem Richie Campbell no palco. O prelúdio soou durante alguns instantes, num emaranhado de vários temas e sonoridades. Richie Campbell foi recebido debaixo de assobios e outros brados interjetivos e laudatórios. Focused, parcialmente gravado no berçário do reggae, a Jamaica, aproxima-se ainda mais da imaculabilidade do género, comparativamente ao álbum anterior, My Path, e ao EP Richie Campbell. Realmente, as composições de Richie Campbell respeitam por completo as leis que alicerçam o reggae, desde os arranjos minuciosos aos textos "nocivos".

 

 

Era difícil de perceber o futuro de cada introdução dada pela banda. Por norma, eram dois os destinos possíveis: ou uma música era contígua a outra, numa espécie de composição siamesa, ou terminava prematuramente por ditame de Richie Campbell. Se achava que faltava algum "power", pedia que recomeçassem, as vezes que fossem precisas. Daí o termos ouvido afirmar «Hoje estou em casa», como que desculpando-se previamente por qualquer tipo de incoerência ou percalço no palco. Contudo, mesmo quando interrompidos alguns dos temas, a aparência sempre foi de uma grande fluidez e espontaneidade.

 

 

 

Quer se goste ou não, há que legitimar a todos o direito à histeria, dentro dos limites, é claro. No reggae, esta histeria traduz-se mais em "wow's" em eco e braços sincronizados a cortar o ar da esquerda para a direita. O alarido, esse, foi sempre uma constante, muito por culpa do aparato de alguns passos de dança de Richie Campbell. Mas não vamos pôr tudo sobre os ombros de Richie: o charro pode também ser outro bode expiatório. Do novo álbum, sobressaíram temas como "Sacrifice My Life", More Than Air" e "Society". Esta última foi, pela iniciativa de Richie Campbell, «dedicada a todos aqueles que conhecemos que precisaram de ir para outros países em busca de uma vida melhor». 

 

 

Pessoalmente, esperava que poucas fossem as músicas conhecidas do público. Mas, ao que parece, em Richie Campbell não há lugar para grandes comercializações dos temas. Ao contrário de muitos outros artistas e bandas, não há a necessidade de se atribuir o rótulo que diz "hit", logo, não há a disparidade entre elitismo e anonimato. Digo isto porque, músicas como "That's How We Roll", "Love is an Adiction", "Blame it on Me" e "911" (estas duas últimas do álbum anterior) foram tão ovacionadas pelo público quanto muitas menos afamadas de Focused. De facto, em "911" foi quase preciso recorrer-se à chamada de urgência, já que aquela sala quase ía abaixo com os saltos que Richie Campbell pôs a plateia a dar.

 

 

É preciso embrulhar muito a língua para proferir tantas sílabas em espaços de tempo tão curtos. Conjugar isso com a afinação e a conquista do público não é pêra doce. As mensagens das letras estão, de facto, impregnadas de uma grande carga perfurante e socialmente atenta. No entanto, este inglês adulterado torna-se muitas vezes imperceptível, o que obstrui precisamente a transmissão da mensagem. Richie Campbell, diga-se em abono da verdade, é reponsável por um projecto atrevido e quase único em território luso. Mas, seria demais pedir que se fizesse este reggae na nossa língua? Ou será que deixava de ser reggae?

 

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por ruionthehop às 13:02

Sexta-feira, 14.12.12

João Pedro Pais «desassossega» o TMN ao Vivo

Por vezes, há coisas que nos são tão familiares quanto desconhecidas. São aqueles quadros pendurados na parede a que nunca demos verdadeira atenção: assentimos a sua presença. Já dizia o outro e com razão: "Se olhares, vê. Se vires, repara." E reparar em João Pedro Pais foi coisa que, até ontem, nunca havia feito. Por um lado, ainda bem porque, assim, ontem não me senti sozinho enquanto estreante - era a estreia ao vivo do novo álbum de João Pedro Pais, Desassossego. Onde? TMN Ao Vivo, Lisboa. Noite serena, cheia de presenças difíceis de não notar: José Luis Peixoto, Luis Represas, Nuno Guerreiro, João Só, José Eduardo Agualusa. 

 

João Pedro Pais, esse, chegou visivelmente nervoso, camuflando-o com a boa disposição. O cantor assumiu nunca antes ter feito 'blues', mas também disse que os entendidos consideram "Isto do Amor" uma das melhores músicas que fez até hoje. Pela completude e pela novidade, passou com distinção, confirmaram-no os aplausos barulhentos. João Pedro Pais estava falador, concentrado e movido pela genica.

 

 

«É inevitável recordar aquilo que nos tornou conhecidos», disse antes de cantar "Louco Por Ti". Fugiu-se, sempre que necessário, à cronologia dos temas, evitando-se um alinhamento rígido. Este alinhamento foi inequivocamente feito a pensar no público. Por isso mesmo, o público, ali, foi soberano. Em "Louco Por Ti", quase não foi preciso João Pedro Pais pegar no microfone. As palmas sincronizavam-se sempre com o pedal da bateria. Assim foi, do início ao fim do concerto. 

 

Do novo álbum, cantou também "Estás à Espera de Quê?", "Reincidentes", "Felizes e Contentes", "Havemos de Lá Chegar", "Fora do Vulgar", "O Fim". Destaque para este último tema que conta com a participação especial de Mónica Ferraz, ex-vocalista dos Mesa. A sua chamada ao palco dificilmente passaria despercebida. João Pedro Pais não poupou elogios para a introduzir à audiência. Com a voz da jovem cantora portuguesa, este tema é um tema a que não falta nada. De um lado, temos a rouquidão natural de João Pedro Pais, do outro, o canto quase celestial de Mónica Ferraz. O fogo e a água juntos.

 

 

Desassossego traz como que uma homogeneidade heterogénea, um perfume que mantém a sua fragrância base e lhe acrescenta novos ingredientes. Se a busca por novos formatos e estruturas musicais mais soltas parece ser uma constante, as composições na primeira pessoa, invariavelmente direcionadas a uma entidade de contornos quase sempre amulherados, mantêm-se neste novo disco. Apostado num diálogo sobejamente romantizado e em temáticas, como a felicidade, o sonho e introspeções alienadas, João Pedro Pais acaba por cair num certo marasmo. Ainda assim, este desassossego parece surgir de observações diretas, deambulações do próprio signatário, o qual, se entrega ao ato da escrita, na maioria das vezes, porque algo que o interceta o motivou a tal. Testemunhou-o várias vezes em palco, através de relatos em que, não raras vezes, invocava companheiros de estrada.

 

 

Não poderia ter faltado a "Mentira", mas é bem verdade que os que por lá estavam tinham a fibra de verdadeiros fãs, a fibra e a memória. João Pedro Pais, levado ao colo pelas teclas de Rui Almeida, teve luz verde para pôr à prova os seus dotes vocais. Aí, foi ele bastante audaz, e igualmente inteligente. Nem sempre num álbum gravado em estúdio temos a oportunidade de discernir verdadeiramente a capacidade vocal de um cantor. Terminou com "Fora do Vulgar" que, segundo contou, foi um título da autoria da sua mãe, o que revela, mais uma vez, a sua faculdade do sentir e do viver com intensidade cada momento.

 

O público não o deixaria, no entanto, ir embora sem que cantasse ainda "Palma e a Mão" e "Ninguém é de Ninguém". Na verdade, à semelhança do que se havia passado quase durante todo o concerto, o público pediu e o público ajudou. O público estava satisfeito.

 

 

Texto: Rui Ramalho

Foto: Andreia Martins

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por ruionthehop às 12:59

Sexta-feira, 07.12.12

Wraygunn sopram velas no Music Box Lisboa

Rock & Roll? Sim. Puro? Difícil de dizer. Os Wraygunn vieram esta quinta-feira, dia 6, ao Music Box Lisboa para comemorar o sexto aniversário do espaço. A salada de frutas onde cabem blues, soul, swing, gospel e outros, foi o prato principal desta noite festiva. O concerto começou por volta das 00:30h e prolongou-se por uma hora e meia. Parabéns ao Music Box Lisboa, tanto pelo aniversário como pela escolha acertada. 

 

Quem o conhece já vai sabendo que Paulo Furtado, vocalista dos Wraygunn, não é homem com papas na língua. Pois bem, e que maneira melhor de o demonstrar do que começando logo por «Nós somos os Wraygunn e fizemos parar a chuva»! Se eles têm poderes ou não, isso não sabemos, o certo é que àquela hora não havia pinga que caísse lá fora. Também não deixa de ser curioso que, depois de terem persuadido S. Pedro a parar com a chuva, tenham cantado "That Cigarette Keeps Burning". 

 

 

 

 

 

Para muitos, deve ser desconcertante que oito elementos em cima de um palco em simultâneo não se atropelem em nenhuma ocasião mas, antes, sejam suficientemente briosos para se autorizarem uns aos outros a luzir. Há um Paulo Furtado com um termómetro vocal mais do que amplo, há um João Doce (percussionista) que não se perde nos grooves labirínticos por um segundo que seja, há Raquel Ralha e Selma Uamusse (backvocals) que, além de cem por cento afinadas, são a medula de muito do sentido harmónico que sustenta a música de Wraygunn. Muito mais havia para realçar, mas fiquemo-nos por aqui.

O palco foi sempre muito pequeno. Apesar disso, para os Wraygunn, pequenez não foi sinónimo de monotonia: muito se esperneou e muito se esbracejou por ali.

 

Também é verdade que Roma e Pavia não se fizeram num dia, assim como a galvanização da plateia não foi conquistada logo nos primeiros temas. Paulo Furtado estaria certamente ciente disso e facilmente se desenvencilhou do caso: «Estão prontos para receber hoje o Rock & Roll? Nós viemos entregá-lo!». A isto seguiu-se "She's a Go Go Dancer" que, segundo o vocalista, é o maior hit de sempre da banda conimbricense. Quem sabia não hesitou, quem não sabia foi quase obrigado a aprender os passos de shuffle que foram enchendo a sala gradualmente. "Track You Down" chegou de seguida, em homenagem pessoal de Paulo Furtado ao programa do Bruno Aleixo.

 

 

Este texto pecará sempre pela insuficiência de adjetivos que descrevam fidedignamente o estilo de Wraygunn. Até porque, durante um concerto como este, pode dar-se o caso de recorrermos a adjetivos por vezes antónimos, já que os Wraygunn souberam fazer o barulho, mas também souberam impressionar com os silêncios premeditados. Mais do que a qualidade musical per se, há todo um saber estar em palco, um saber utilizar o diálogo e as palavras indicadas, que não está ao alcance de qualquer banda. Mas, já que se fala na qualidade técnica, não posso deixar de sublinhar o esplendor dos arpejos de Paulo Furtado e os riffs sempre suportados com a pele dos dedos, sem qualquer auxílio da palheta.

 

"All Night Long" parecia, de facto, não ter um fim previsto: como já antes o vimos fazer, Paulo Furtado embrenhou-se no meio do público, abdicando sempre que necessário do microfone para deixar as vozes dos fãs tentarem a sua sorte. Subiu ao balcão do Music Box, emborcou um shot, descalçou-se, desfilou, tudo enquanto a "pobre" banda assegurava a música de fundo. Não podia dar-se a estes luxos se não merecesse primeiro a aprovação da plateia, algo que se esforçou sempre por garantir. 

 

 

Bem sei que já falei numa salada de frutas para definir o estilo peculiar de Wraygunn, mas permitam-me que testemunhe a genuinidade de um Rock & Roll perfeitamente encaixável na ancestralidade americana do género, trazendo à memória aquelas saias com boca alargada típicas dos anos 50 que se adequavam aos passos de dança mais desinibidos. O grande Rui Veloso que me perdoe, mas a tutela do Rock & Roll português tem de ser feita a meias com os Wraygunn. Depois de "Love Letters From a Muthafucka", última música, Paulo Furtado deixou-nos com a sua bênção: «Que o amor esteja convosco!».

 

 

 

 

 

 

 

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por ruionthehop às 03:00


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